Nesse contexto, o Open Document Format ou Formato de Documento Aberto (ODF) padrão e aberto – o formato nativo dos documentos do LibreOffice, também apoiados por outras suítes – é a tecnologia fundamental para aqueles que buscam a verdadeira independência digital.
A soberania digital inclui a capacidade de controlar o acesso às próprias informações sem depender de terceiros, fazer escolhas tecnológicas independentes com base nas próprias necessidades, garantir o acesso independente a dados estratégicos sem depender dos interesses comerciais da Big Tech e manter essa autodeterminação tecnológica em face da consolidação do mercado.
Quando agências governamentais, empresas ou cidadãos armazenam seus documentos em formatos proprietários controlados pela Big Tech, eles entregam parte de sua soberania e dependem dessas entidades externas para acessar suas próprias informações.
Por que os formatos de documentos são importantes para a soberania
Os formatos de documentos são infraestrutura, que, como estradas, redes elétricas ou redes de telecomunicações, são fundamentais para o funcionamento das sociedades modernas. Considere o que acontece quando documentos estratégicos existem apenas em formatos controlados por um único fornecedor:
- Lock-In do fornecedor: As organizações encontram-se presas, incapazes de mudar para software alternativo sem processos de conversão dispendiosos e perda potencial de dados.
- Perda de controle: os formatos podem e mudam sem aviso prévio e além do controle dos usuários, aumentando o efeito do bloqueio do fornecedor.
- Fragilidade do Access: se o fornecedor que controla o formato alterar o formato ou descontinuar o suporte, como foi o caso do Windows 10, o acesso a documentos se torna problemático ou impossível.
- Dependência Econômica: O custo da licença necessária para executar atualizações de software cria uma relação de dependência econômica para acessar os próprios dados e transferir efetivamente a propriedade dos dados para o fornecedor que controla o formato.
Por que o ODF é a única ferramenta para a soberania digital
A ODF é regida pela OASIS, uma organização internacional de padronização que protege seu desenvolvimento transparente e é publicada como ISO/IEC 26300-2015 (e em breve ISO/IEC 26300-2025). Ao contrário dos formatos proprietários, as especificações ODF são públicas e podem ser implementadas livremente, são desenvolvidas através de um processo transparente e multissetorial, não são controladas por um único governo ou empresa e estão sujeitas a organismos internacionais de padronização.
Isso significa que governos e empresas podem participar da definição das especificações do formato, em vez de serem forçados a aceitar passivamente mudanças impostas por um único fornecedor com base em suas estratégias comerciais.
Assim, as especificações ODF permitem que qualquer pessoa crie um conjunto de escritórios que suporte nativamente o formato e promova a soberania digital, sem qualquer autorização, taxas de licença ou medo de ações legais, enquanto apoia a indústria de software local.
O ODF permite a verdadeira interoperabilidade, não só entre diferentes pacotes de software, mas também entre países, linguagens e sistemas políticos. Um documento criado no Brasil pode ser aberto e editado na Índia, Alemanha ou Japão usando software desenvolvido localmente. Isso quebra as barreiras digitais e permite a criação de ecossistemas tecnológicos diversos e independentes.
Uma pilha para a soberania digital
A soberania digital requer uma infraestrutura multicamadas, começando com o formato padrão aberto ODF para garantir a independência do formato, passando para uma suíte de escritório de código aberto, como o LibreOffice, para ter controle sobre a ferramenta, uma infraestrutura de nuvem de código aberto, como a Nextcloud, para ter controle sobre a localização dos dados e terminando com uma estrutura legislativa que define os requisitos para soberania.
O ODF está na base da pilha porque, sem um padrão aberto para o formato de documento, a soberania digital ainda é limitada, mesmo com elementos como uma lei que favorece o software de código aberto, uma infraestrutura de nuvem de código aberto e uma suíte de escritório de código aberto.
Desafios para a adoção do formato ODF
Adotar o formato ODF padrão aberto para soberania digital não é isento de desafios, por várias razões:
- A migração de formatos proprietários requer planejamento, treinamento e, em muitos casos, gerenciamento de problemas de interoperabilidade devido a complexidades desnecessárias artificialmente incorporadas ao formato proprietário.
- Quando as partes interessadas na organização continuam a usar o formato proprietário, a troca de documentos no formato ODF pode criar problemas de interoperabilidade, já que os conjuntos de escritório que não usam o ODF como seu formato nativo têm problemas para lidar com arquivos ODF adequadamente.
- A implementação de políticas focadas na soberania digital requer um compromisso claro da administração, que deve priorizar a independência a longo prazo em relação à conveniência de curto prazo.
No entanto, todos esses desafios podem ser gerenciados e tendem a diminuir com o tempo, enquanto as restrições e custos de dependência de formatos proprietários se tornam cada vez mais severos.

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