Saiu ontem 11 de Fevereiro de 2015Anahuac de Paula Gil veiculado no site do softwarelivre.org, no site Br-Linux, Diolinux, no próprio site do Anahuac, entre outros.
Se foram um pouco mais de dois anos desde que a Canonical decidiu enganar todos seus usuários instalando um programa pernicioso, invasivo e espião, sem dizer nada a ninguém, em seu sistema operacional batizado de Ubuntu. O programa em questão monitora suas pesquisas e entrega para a Amazon. Parou de fazer isso? Não faz a menor diferença.
Se foram um pouco mais de dois anos desde que a Canonical decidiu enganar todos seus usuários instalando um programa pernicioso, invasivo e espião, sem dizer nada a ninguém, em seu sistema operacional batizado de Ubuntu. O programa em questão monitora suas pesquisas e entrega para a Amazon. Parou de fazer isso? Não faz a menor diferença.
Eu costumava provocar meus amigos Debianers que Ubuntu é uma palavra
africana que significa "Debian bem feito". A resposta era imediata, me
corrigindo: "Ubuntu significa não sei instalar Debian". Piadas e
provocações a parte, Ubuntu significa "Sou o que sou pelo que nós
somos". O sentido poético é inspirador, afinal de contas, Ubuntu, eu e
você deveríamos ser uma simbiose. Um conjunto. Um círculo, sem inicio
nem fim, onde todos tomos o que somos pero que todos somos.
Mas o que somos? Antes de existir a Canonical ou Ubuntu, já éramos
uma comunidade de Software Livre, do Movimento Software Libre.
Compartilhamento, amizade, camaradagem, liberdade, honestidade, era isso
o que éramos. No Brasil fomos um dos grupos mais bem estruturados e
unidos. Os laços tem haver com a cultura, a fé, a pobreza financeira, a
riqueza de espírito, a humanidade e especialmente o desejo que querer o
melhor para nossos semelhantes. Essa é a essência do Movimento social e
político do Software Livre.
Ao longo do tempo aconteceu uma relação inversamente proporcional:
quanto mais o Ubuntu evoluía como sistema operacional, menor era o
compromisso da comunidade com os princípios do Software Livre. Ubuntu
ficou mais fácil de instalar graças a seus drivers proprietários: a
comunidade aceitou. A FSF denunciou o comportamento antiético e amoral
da Canonical e a comunidade decidiu demonizar o Stallman. O kernel do
Ubuntu é o que mais tem códigos não livres e a comunidade parece gostar
cada vez mais.
Em 2012, depois das denúncias da FSF eu deixei de usar Ubuntu.
Convidei e continuo convidando muitos a fazerem o mesmo, afinal o
conjunto Software Privativo + Spyware + Comportamento de Microsoft, não
coaduna com os princípios do Software Livre. Até escrevi um outro artigo
dando os detalhes chamado "A Microsoftização da Canonical". Tenho
alertado, pedido, conversado, escrito e palestrado. Mas parece que
quanto mais eu falo, menos efeito tem. Até mesmo mega eventos de
Software Livre como o FISL e o Latinoware insistem em fazer amplo uso e
propaganda da distribuição. É como se não usar Ubuntu fosse feio,
impossível ou improvável. Percebo esse mesmo sentimento nos usuários dos
produtos da Apple: sabem que não é correto, mas insistem em usar.
É claro que se pode esperar comportamento antiético e amoral das
empresas. Elas foram criadas para isso. Em uma economia capitalista não
devemos ser ingênuos, certo? Então porque a comunidade Ubuntu não reage?
Como é possível que a maior comunidade defensora de Software Livre do
Brasil não defenda mais Software Livre? Porque os milhares de ativistas
que se esforçaram tanto para mostrar a seus amigos e parentes que usar
GNU era melhor. Segurança, estabilidade, liberdade!
Liberdade de código. Aquela que garante e perpetua a liberdade
através da GPL. Aquela que transforma a relação entre os fabricantes e
os consumidores, empoderando os usuários, finalmente. Liberdade de
código que tornou restrições de área em DVD's obsoleta, que fez
engenharia reversa em diversas placas Wifi. Liberdade que leva ao
compartilhamento, que leva à excelência, que transforma software em
serviço e não em produto. Liberdade que abalou as colunas dos grandes
monopólios.
A Comunidade Ubuntu mudou? Claro que sim! Muito mais adeptos, muito
mais usuários, muito mais computadores instalados. Então o saldo é
positivo, pois mais pessoas entendem que a liberdade do software lhes
garante qualidade computacional, lhes dão mais poder nas relações
comerciais e assim promovemos uma sociedade mais justa, certo?
Infelizmente o resultado não foi bem esse. É fato que o número de
usuários cresceu geometricamente, mas a grande maioria não faz ideia do
que usa, nem do benefícios do Software Livre. E todos os usuários de
Ubuntu, sem exceção, estão usando Software Privativo.
Pode-se argumentar que os usuários comuns não devem saber dos
detalhes. Eles não entenderiam. Ele querem que "a coisa" funcione e nada
mais. Pode ser, mas o risco de não educar as massas, é que quando o
perigo se apresentar, elas não saberão distinguir entre o que é
realmente certo, parcialmente certo, parcialmente errado ou realmente
errado. Elas continuarão a querer apenas que " a coisa" funcione. Esse é
o "Calcanhar de Aquiles" da massificação de usuários.
Será que a Comunidade Ubuntu tem isso bem claro? Vocês estão
distribuindo código fechado. Em vez de ajudar a libertar as pessoas,
estão ajudando a aprisioná-las. Será que está claro que a complacência
ao aceitar a presença de código privativo e do comportamento amoral da
Canonical, terminam enfraquecendo todo o Movimento Software Livre me
escala mundial?
Sejam honestos com vocês mesmos. Será que não perceberam que "aberto"
virou sinônimo de livre? É open isso, open aquilo. Open, aberto não é o
mesmo que livre. Algo aberto não muda a forma das pessoas pensarem,
apenas ajusta a forma de resolver problemas. Afinal de contas com acesso
ao código e produzindo colaborativamente os negócios gastam menos e
obtém melhores resultados. Mas desde quando a Comunidade Ubuntu passou a
priorizar o desempenho das empresas em detrimento dos respeito às
liberdades do usuários? Desde quando a ideia era facilitar a instalação
do sistema operacional GNU, em detrimento do entendimento de seus
princípios éticos e filosóficos?
Este é um apelo a toda a Comunidade Ubuntu para que usem sua
tenacidade, capacidade de mobilização, perseverança, doação e espírito,
para mudar de distribuição. Mostrem a Canonical que a Comunidade
Software Livre é muito maior e mais poderosa do que ela. Mostrem que o
que vale é o Software Livre e tudo que ele representa e não "um rosto
bonito", que nos engana, maltrata e desrespeita. Escolham uma outra
distribuição realmente comprometida.
Não somos ingênuos. Sabemos que o caminho é árduo. A batalha é
sangrenta. O esforço é hercúleo. Mas podemos sim resgatar quele
sentimento, aquela convicção de que se esta fazendo a coisa certa e não o
mais fácil. Este é um convite para subirmos o Monte Everest mais uma
vez. Desta vez do jeito certo.
Já imaginaram o recado que a Comunidade Ubuntu se intitulasse Comunidade GNU?
Saudações Livres!
Fonte: sofftwarelivre.org
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